Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied, autor da Viagem ao Brasil – livro
que é, “sem contestação possível, um dos mais preciosos e encantadores”–
visitou o Espírito Santo em 1816. Ao lado dos apontamentos de ordem
essencialmente científica, sua obra contém as mais variadas informações sobre a
terra e a gente da região que percorreu. De cada lugarejo ou fazenda registrou
deficiências e manifestações de progresso, sem esquecer a vida comercial, a
psicologia do povo, a beleza da paisagem, o conforto ou miséria das casas.
Em
Muribeca, encontrou trezentos escravos negros, dos quais uns cinquenta
aproveitáveis para o trabalho, que era bastante árduo e, quase todo, dedicado à
derrubada das matas. Verificou, outrossim, haver ali cultura de mandioca,
milho, algodão e um pouco de café. Surpreendeu-se, em Piúma, com uma ponte de
madeira – “verdadeira raridade nessas paragens”. Vitória pareceu-lhe, embora
“um tanto morta”, “lugar limpo e bonito, com bons edifícios construídos no velho
estilo português”. Alarmou-se com a insegurança dos habitantes das margens do
rio Doce, onde todos levavam consigo as espingardas quando iam às plantações, escandalizando-se,
também, em Linhares, cujos moradores não podiam viajar sem licença prévia, nem
lhes era permitido consumir mais de uma garrafa de aguardente, por família, em
três meses.
Na página 149 Maximiliano narra que: “Deixando Praia
Mole, chegamos cedo, na manhã seguinte, ao povoado de Carapebuçu. Dêsse lugar
em diante, ao longo do litoral, se estendiam florestas, orlando as enseadas e
cobrindo as pontas de terra.” (...). “Nos cerrados que margeiam a costa,
habitam famílias pobres e esparsas, que vivem da pesaca e da colheita de suas
plantações.” (...). Continuando para o norte, alcançamos um trcho onde morava
não crioulos ou mulats, mas índios civilizados. As habitações se espalhavam por
uma sombria floresta de árvores gigantes”.