terça-feira, 7 de maio de 2019

Princípe Maximiliano e o povoado de Carapebuçu


Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied, autor da Viagem ao Brasil – livro que é, “sem contestação possível, um dos mais preciosos e encantadores”– visitou o Espírito Santo em 1816. Ao lado dos apontamentos de ordem essencialmente científica, sua obra contém as mais variadas informações sobre a terra e a gente da região que percorreu. De cada lugarejo ou fazenda registrou deficiências e manifestações de progresso, sem esquecer a vida comercial, a psicologia do povo, a beleza da paisagem, o conforto ou miséria das casas.
Em Muribeca, encontrou trezentos escravos negros, dos quais uns cinquenta aproveitáveis para o trabalho, que era bastante árduo e, quase todo, dedicado à derrubada das matas. Verificou, outrossim, haver ali cultura de mandioca, milho, algodão e um pouco de café. Surpreendeu-se, em Piúma, com uma ponte de madeira – “verdadeira raridade nessas paragens”. Vitória pareceu-lhe, embora “um tanto morta”, “lugar limpo e bonito, com bons edifícios construídos no velho estilo português”. Alarmou-se com a insegurança dos habitantes das margens do rio Doce, onde todos levavam consigo as espingardas quando iam às plantações, escandalizando-se, também, em Linhares, cujos moradores não podiam viajar sem licença prévia, nem lhes era permitido consumir mais de uma garrafa de aguardente, por família, em três meses.
Na página 149 Maximiliano narra que: “Deixando Praia Mole, chegamos cedo, na manhã seguinte, ao povoado de Carapebuçu. Dêsse lugar em diante, ao longo do litoral, se estendiam florestas, orlando as enseadas e cobrindo as pontas de terra.” (...). “Nos cerrados que margeiam a costa, habitam famílias pobres e esparsas, que vivem da pesaca e da colheita de suas plantações.” (...). Continuando para o norte, alcançamos um trcho onde morava não crioulos ou mulats, mas índios civilizados. As habitações se espalhavam por uma sombria floresta de árvores gigantes”.